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DIABOS NA DEMOCRACIA

Era de se esperar que a morte de Fidel Castro representasse a liberdade plena de Cuba, infelizmente, não é assim. Fidel Castro parte, mas deixa sucessor, deixa o irmão, deixa seu sangue ainda correndo nas veias de Raul.

Fidel Castro é um verdadeiro símbolo da forma de governo que tem acometido a América Latina. Somos um solo fértil ao nascimento de governos ditatoriais, sejam manifestos, sejam travestidos de democracia. Ficamos estupefatos com a audácia de sujeitos que se autoproclamam salvadores da pátria ao longo do território latino-americano. Embora alguém reconheça certo mérito em Fidel Castro, em linhas gerais, ele representa bem esse germe nocivo do nosso chão.

De ponta a ponta, a América Latina tem convivido com a desgraça da opressão política. De repente, de modo covarde, valendo-se de armas estatais, alguém usurpa o poder e oprime o povo. Foi assim no Chile de Pinochet e na Venezuela de Chávez e seu discípulo com nome de Maduro. Tem sido assim no Brasil, cuja história pouco tem abandonado a linha das ditaduras, sejam assim chamadas o governo militar, seja a linha ditatorial que tenta se afirmar democrática, quando, na verdade, não passa de usurpadores pseudolegitimados pelo voto.

Cuba é um exemplo vivo do que a mente doentia de uma pessoa no poder pode produzir. Líderes igualmente doentes aplaudem Fidel. Coreia do Norte decretou luto. Maduro deve ter chorado. Lula elogiou. Na verdade, Cuba é um estado de quase calamidade, não muito diferente da nossa vizinha Venezuela. Faltam alimentos. Falta liberdade. Cuba representa o capricho de uma mente doentia, que prega uma revolução contra um tal “inimigo” capitalista, quando o povo, este sim, é o único inimigo. É assim na Coreia setentriã, e assim na Rússia, que deixou a URSS, mas nunca se viu livre de ditadores.

O Brasil, quando aplaude Fidel, aplaude a mesma desgraça. Em nome de amizades pessoais, um e outro declara agora que Fidel é quase um santo. Santo nada! Não são poucos os mortos de Havana. Não são poucos os deportados indiretamente. Não são poucos os que não têm nada depois da nefasta revolução sei lá das quantas!

Nosso país sempre foi um reduto de gente disposta a apoiar o que não presta. Somos um país igualmente governado e legislado por ditadores. Não sei se Fidel Castro acumulou riquezas. Se não, eis aqui uma virtude relativizada. Mas, no Brasil, o que temos é um sistema político que se apropria dos recursos públicos. Vendo os noticiários, parece que estamos vendo uma novela sem fim, mil e uma noites de ladroagem. Eu penso que grande parte dos políticos brasileiros – para não dizer todos – trabalham apenas em causa própria, fazendo da política um meio de enriquecimento ilícito.

O que acontece com o Brasil é a mesma desgraça que governou e governa Cuba com mão de ferro. O povo latino-americano é refém de meia dúzia de oportunistas, capazes de tudo para se dar bem. Francamente, eu não acredito mais em trabalho parlamentar, salvo raríssimas e raríssimas exceções. Estamos no mesmo barco de Cuba. Podemos naufragar. Somos sobreviventes neste mar infestado de tubarões políticos. Eles devoram quase todos os nossos recursos. Vivemos do resto, da sobra, da rapina.

Vivemos uma democracia de fachada. Ilusão. Gastamos milhões para eleger as mesmas figurinhas. Ainda aqueles, de cara nova, já chegam contaminados. Por causa da mamata, até pastores de grandes igrejas entram na roda política e concorrem a cargos políticos. Lamentável. Lamentável. Lamentável. Não há esperança para o Brasil. Não há esperança em menos de um século. Para que houvesse uma mudança, necessário seria educar o povo. Mas onde você já viu Ali Babá revelar a senha? Por que instruir a nação? Por que formar consciência? Veem o Maranhão? Pois é: terra de ex-presidente, estado paupérrimo, miserável à enésima potência.

Lamentemos pela paradisíaca ilha do Caribe. Fidel deixa uma herança nefasta. Morreu porque a morte é mais ditadora ainda. Não respeita partidos nem liberdades. Cuba ficou assolada, governada pela mesma família. Lamentemos igualmente o Brasil, aqui estamos sendo saqueados. Vão-se os nossos bens, vai-se igualmente o progresso, a saúde, educação, a comida. Somos todos latino-americanos. Nossa história é a história de uma colonização nefasta, que dizimou nossos índios e escravizou negros. Nossa história é a história de figurões que aparecem travestidos de anjos de luz, mas, na verdade, não passam de diabos na democracia.
Rui Raiol é escritor – Site: www.ruiraiol.com.br
Publicado em O Liberal 29 de Novembro de 2016