SANTOS NA TERRA
Madre Teresa de Calcutá foi declarada santa pela Igreja Católica, tornando-se oficialmente digna de veneração e imprecações com a ajuda de um brasileiro considerado “prova” de um suposto milagre recebido por intermédio da madre. Penso que não precisamos de mais altares. Precisamos de uma legítima conversão ao Evangelho e de uma santidade viva.
Precisamos de santos vivos. Segundo a fé cristã, o Céu contém um exército de mulheres e homens que alcançaram uma vida santificada na Terra. São declarados definitivamente santos por Deus, o único que detém autoridade para declarar isto, convenhamos. Mas é uma santidade que não pode intermediar a vida humana. Por uma leitura bíblica sem dificuldade hermenêutica, lemos que o único mediador entre a Divindade e os homens é o próprio Messias, o Filho de Deus. Segundo o Santo Livro, as demais pessoas não podem interferir porque foram cem por cento humanas como nós outros e dependeram também da salvação providenciada pelo Messias.
O Brasil precisa de santos vivos, que possam ser notados agora no meio da nossa geração. A santidade não é algo para ser vivido apenas no Céu. Aliás, ser santo no Céu não tem nada de mais, pois todos os seus habitantes ali gozam dessa condição, cremos. A relevância está em santos na Terra, pois é aqui neste plano que podemos mesmo fazer a diferença.
Precisamos de santos vivos, a começar pelos que ostentam títulos eclesiásticos. Ministros religiosos devem ser o exemplo. Padres. Pastores. Bispos. Papa. É revoltante que a Igreja instituição seja aqui e ali o mau exemplo perante a sociedade. Jesus afirmou que a lâmpada dos cristãos deve brilhar no mundo, para que, a partir disto, este mundo visualize Deus.
Santos vivos precisam estar no púlpito das igrejas evangélicas brasileiras, santos que andem em bons caminhos, falem sempre a verdade e sejam exemplos do amor. Pastores precisam ser verdadeiramente pastores, de modo que a Nação possa receber deles o exemplo dos legítimos valores do Evangelho. É inadmissível que alguns pastores brasileiros, outrora pobres, hoje ostentem fortunas alcançadas por uma pregação alienante, mercadológica, permissiva e confiscatória. Pastores precisam ser reconhecidos por uma vida santificada no meio do seu rebanho e do mundo. É inadmissível que briguem por causa de territórios eclesiásticos-financeiros de uma nação que clama pelos valores da moralidade e da ética.
Santos vivos precisam estar na cúpula dos sínodos, concílios e convenções de religiosos para que o poder eclesiástico deixe de ser apenas uma moeda política. É triste, porém, algumas convenções de religiosos não passam de covil de salteadores, como advertiu o Nazareno. É triste porque essas instituições são apenas as “tocas”, onde homens dessa estirpe se escondem para continuar praticando seus crimes.
Sendo o Brasil uma nação considerada cristã, é de se esperar que a santidade moral desse grupo seja algo expressivo, mas não é o que vemos. Nosso país está mergulhado nas pesadas trevas da corrupção. Somos um povo faminto de justiça social. O Brasil é um país hipócrita, que clama por direitos humanos de meia dúzia, mas esquece da maioria esmagadora da população que morre diariamente pelos criminosos do sangue e da alma. Na sabedoria do Mestre, deveriam cuidar da minoria, sem afrontar a inteligência do nosso povo.
Não. Não precisamos de mais altares. Precisamos de santos vivos. Santidade ética. Moral. Religiosa. Santidade exemplificada pelo Nazareno. Santidade no falar e no agir. Santidade nos contratos. Santidade dentro da igreja, mas sobretudo quando estamos fora dos seus muros. É lamentável que a religião brasileira não lute como deveria lutar por este tipo de santidade. É lamentável que não sejamos santos, como deveríamos ser. Lamentável a venalidade. Lamentável a orgia política e religiosa com o dinheiro de um povo oprimido. Deus não está interessado em reconhecimento de santidade na vida daqueles que já estão com Ele. Deus está procurando santos que vivam hoje na Terra e façam a diferença.
Rui Raiol é escritor (www.ruiraiol.com.br)
Publicado no jornal O Liberal em 6/9/2016