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A FAMÍLIA NA HISTÓRIA DA ASSEMBLEIA DE DEUS

Não foi casualmente que a Assembleia de Deus escolheu o tema “Fortalecendo a Família” para celebrar os seus cento e cinco anos de fundação. Desde 1911, a igreja tem se destacado pelo aspecto familiar de sua congregação.

A Assembleia de Deus nasceu sob a força do movimento familiar. Durante o ciclo da borracha, a família constituiu a base da economia paraense. Um forte movimento migratório atingiu a Amazônia. Do Nordeste, um verdadeiro exército de famílias chegou ao Estado do Pará. Os “soldados da borracha”, como ficariam conhecidos mais tarde os trabalhadores dos seringais, eram verdadeiros clãs à procura do “ouro branco” encontrado na Hileia.

Assembleia de Deus nasceu nesse período da história. Sua pregação era endereçada a “estrangeiros” de outras regiões brasileiras. Sua mensagem era um alento para trabalhadores solitários que viviam aqui longe de casa, no desconforto das moradias pobres e das doenças que grassavam a cidade.

Na igreja, pessoas assim encontravam o consolo numa comunidade que vivia como família também. Tratados como “irmãos”, membros da primeira Assembleia de Deus podiam contar com a solidariedade. Tanto é verdade que a igreja gastava quase tudo que arrecadava com ofertas e dízimos com filantropia. Lendo seus primeiros registros contábeis, temos “oferta para um pobre”, “auxílio a uma viúva”, “oferta para um funeral”, e assim por diante.

Nesse período econômico, tudo girava em torno da borracha. Além dos trabalhadores, chegavam a Belém muitas famílias nobres. A divisão de classes era gritante. Famílias portuguesas e espanholas dividiam o mercado da seringa, fosse trabalhando na área extrativista, fosse, sobretudo, pelo comércio e serviços que gravitavam em torno da árvore mágica que abastecia a indústria americana e europeia.

Quando os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren aqui chegaram, em 19 de novembro de 1910, logo encontraram um refúgio na Ilha do Marajó. Na verdade, foram hóspedes da família Nobre, uma família seringalista do rio Ipixuna. E foi com esta família que os missionários, principalmente Vingren, aprenderam a língua portuguesa.

Dos dezenove fundadores da Assembleia de Deus, sem incluir Berg e Vingren, grande parte era estrangeira. A igreja nasceu transcultural, razão por que logo enviaria seu primeiro missionário às terras portuguesas. Essa significativa percentagem de seus pioneiros rendeu-lhe o gosto pelas letras e artes. Músicos, escritores e pintores estão na linha de partida da Assembleia de Deus.

A família teve destacado papel na formação da Assembleia de Deus. Suas reuniões sempre foram reuniões de famílias. Crianças, jovens e anciãos sempre estavam juntos nesse começo, fosse uma reunião alegre da Escola Dominical, fosse nos cultos públicos. A fotografia mais antiga da igreja, de agosto de 1911, reúne essa diferente faixa etária diante do antigo templo na José Malcher.

A família foi importante na evangelização. Cada lar transformou-se numa extensão do templo, com pregações, cânticos e orações na sala ou na rua. Vendo o bom exemplo, logo outras famílias se juntavam, aumentando a membresia desta que hoje é a maior igreja evangélica brasileira.

A família está na base da explicação do crescimento da Assembleia de Deus. Ela nasceu com uma pregação de conforto para os trabalhadores da borracha distante dos seus lares. E, mais tarde quando a borracha brasileira perdeu a concorrência para a Ásia, a Assembleia de Deus acompanhou suas ovelhas no retorno a seus lares. Acompanhou simples e nobres e, assim, como sementes aladas, espalhou-se de uma vez no território nacional e além-mares.

Rui Raiol é escritor (www.ruiraiol.com.br)