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Artigo: “O homem indestrutível”

 Paradoxalmente, o ser mais evoluído da Terra é também um dos que menos vivem, raramente alcançando o centenário. Não obstante, esta é a única espécie indestrutível.     Ao contrário de milhões de seres, o homem nasce para permanecer. Uma vez firmada a sua existência, a biografia humana caminha de um traço fraco até linhas profundas na sua trajetória. Isto acontece à medida em que o homem se torna agente da história, sujeito ativo capaz de deixar rastros bem estabelecidos.     Examinando apenas a existência terrena, portanto sem adentrarmos a questão da alma, o homem é indestrutível, imortal, diríamos. Essa indestrutibilidade tem a ver com o traçado único de cada homem. Primeiro, não existem duas pessoas idênticas, nem mesmo os univitelinos. Cada um tem seu DNA, sua assinatura no mundo.     A individualização genética do homem é a base de sua indestrutibilidade. Depois, vem o traço da personalidade, o tecido de seu pensamento e uma teia de emoções que insistimos em padronizar, classificando como positivas e negativas. Cada pessoa é assim como uma coluna no mundo, uma vez firmada, não pode mais ser removida.     Todavia, não basta a individualização genética nem fenótipo, o que imortaliza o homem são suas obras. Assim, tendo vindo ao mundo e exercido um papel, a figura humana torna-se indestrutível, o maior patrimônio imaterial.      Neste primeiro momento, não se faz juízo de valor acerca dessas obras, embora seja chocante constatar que biografias extremamente perversas e, paradoxalmente, destruidoras figurem entre as mais perenes da história. É o exemplo de Hitler e tantos outros. Felizmente, provamos da indestrutibilidade de tantos.     A boa notícia, claro, é que não precisamos ser classificados como grandes vultos para constar dessa galeria indestrutível. Não. Ao nascer e firmar bem o seu papel, você já ganhou foros de indestrutibilidade, pois o ser que você representa jamais pode ser tocado. O corpo pode até ser morto, porém, o patrimônio que você mesmo é nunca estará ameaçado.     Inegável, porém, que não podemos fechar biografias de pessoas vivas. Enquanto respirar, o homem segue escrevendo seu livro. Somente biografias seladas têm o poder de revelar a verdadeira face do homem.     Quando o homem parte, suas obras erguem-se como colunas únicas no mundo. Indestrutíveis. Venham bilhões e bilhões, e cada um continuará de per si enquanto expressão máxima de individualidade e imortalidade, pelo menos enquanto mundo for mundo.          

Rui Raiol é escritor e membro da Academia Vigiense de Letras

Publicado no jornal O Liberal em 11/4/2023
E-mail ruiraiol@gmail.com