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Artigo: “O desumano trânsito de Belém”

Na declaração de uma moradora de Brasília em visita a esta cidade, o trânsito de Belém é algo desumano. Os anos passaram desde que ouvi isto, e até agora não encontrei classificação melhor, pois, de fato, a cada dia as ruas de Belém tornam-se mais incivilizadas, onde os valores da pessoa humana parecem não valer nada.     Quem quiser saber o que é falta de respeito e educação, atreva-se a dirigir ou simplesmente viver em Belém. É uma loucura! Apesar de uma boa malha viária no centro,o asfalto regular parece só ajudar quem vive para transgredir.
     Em Belém, andar na contramão é algo normal. Cuidado! Se você vai atravessar uma rua de sentido único, olhe sempre para os dois lados, pois aqui estamos rumando para nos tornar uma Índia em termos de trânsito. Motociclistas estão no topo da transgressão, parecem sempre desesperados, não conseguem – com raras exceções – obedecer os semáforos. A todo momento, somos surpreendidos por um motociclista desrespeitoso. Eles podem avançar sinais, andar na contramão, subir em calçadas, cortar  estacionamentos nas esquinas e transitar por ciclovias e BRT. Podem tudo em Belém!      Por sua vez, condutores de veículos de passeio e de ônibus padecem também da mesma pressa. Ninguém pode esperar um segundo no trânsito de Belém.O sinal ainda não abriu, mas já tem gente buzinando. Ah! A buzina! Seria tão bom as autoridades proclamarem um dia sem o uso dela em Belém! É terrível! É onde muitos exteriorizam todo o seu desrespeito e falta de educação. A buzina é o instrumento do grito, dos palavrões que berram dentro de seus veículos. Ninguém respeita nada. Domingo, eu vi um caboclo buzinar dentro do estacionamento da Assembleia de Deus enquanto o culto matinal ainda rolava. Esse povo não leu o Código de Trânsito? Não sabe que é proibido buzinar diante de igrejas e hospitais?     Muitos motoristas viciados em buzina não conseguem ver qualquer obstáculo sem enfiar a mão no volante. O centro de Belém é uma sinfonia tétrica com dezenas de buzinas que soam com seus diapasões de fábrica. Ninguém respeita a paz pública. Ninguém respeita o sono. Durante as noites, motociclistas voltam com suas máquinas envenenadas, capazes de perturbar uma rua inteira com o ruído que não devem ouvir mais como recompensa do que fazem. E não é só isso: quem dirige à noite, às vezes parece esquecer que as ruas não são pistas exclusivas de trânsito, mas são o caminho de casas e condomínios. É preciso lembrar disto antes de meter a mão na buzina nos cruzamentos tarde da noite.     E a ocupação das faixas? Bem, se uma pista tem três faixas, esqueça as laterais, porque muitos motoristas as utilizam como propriedade privada. É algo impressionante! Belém é a cidade onde impera o egoísmo nas ruas. Importantes corredores podem ser fechados por um motorista, às vezes “profissional”. O mesmo vale para cruzamentos. 
     Somente as autoridades podem melhorar isto através de campanhas e melhor fiscalização. Belém precisa com urgência de educação no trânsito. Se fosse uma pessoa física, a capital do Pará já teria perdido a carteira há muito tempo.

Rui Raiol é escritor e membro da Academia Vigiense de Letras 

Publicado no jornal O Liberal em 7.3.2023
E-mail ruiraiol@gmail.com