Artigo: “Política, a arte da imprevisibilidade”
A política é uma das coisas mais imprevisíveis do mundo. É um exemplo fiel da intangibilidade do tempo futuro. Em política, podemos opinar à vontade, e estarmos certos de que podemos errar tudo. Eu diria que é onde a vida nos parece mais incerta.
Quando os militares estavam no poder, muitos duvidaram de mudanças. Fardas. Armas. Desfiles. Todo um conjunto de elementos desse poder dizia que o caminho da tal liberdade era algo muito espinhoso. O governo militar tinha escola. Ensinava desde os pequeninos até as universidades. Ainda me lembro de tantas vezes que tive de ficar acenando com uma bandeirinha de papel no caminho em que passariam governadores e ministros daquele tempo.
O período militar passou. A campanha pelas Diretas Já sacudiu o País. Tancredo Neves tornou-se o primeiro presidente eleito para o novo período. O Brasil vestiu-se de verde-amarelo. Todavia, Tancredo não viveu suficiente para assumir o cargo. José Sarney saiu diretamente da urna eleitoral para o Planalto. Agora, tínhamos alguém que, eleito vice, ganhara o cargo integral, sem que o titular tivesse o gostinho de ficar um único dia no poder. A política seguia sua natureza imprevisível.
Vencida a era Sarney, chegou a vez de Fernando Collor. O Brasil coloriu de novo. O alagoano chegou com pose de herói. Estava em todos os lugares, sempre fazendo questão de vestir todas as indumentárias. De repente, acusações. O povo volta à rua. São os cara-pintadas. Collor desce a rampa. O Brasil vai seguir a sua sorte com a vice-presidência. Sai Collor. Entra Itamar.
Fernando Henrique Cardoso é o ministro da Fazenda. Ninguém podia precisar que naquela pasta estaria o novo presidente. Bem, não quero me estender.
As eleições provam que a política é mesmo um negócio imprevisível. Torcemos para que acertemos o passo, elegendo uma pessoa que trabalhe de fato pelo País. O Brasil é uma nação pacífica. É o nosso povo. Merece viver bem. Que venha então alguém com esse desejo de ajudar, tirar crianças das ruas, facilitar a educação e o trabalho.
A História continua viva. Organismo vivo. Sofre mutações. Despedaça-se. Emenda-se. Reinventa-se. Quem quiser saber o futuro político do Brasil, precisará mesmo reler a sua história. Surpresas a toda hora. Quem era pra viver muito, matou-se. Quem se matou, virou herói. Alguns vivos, estão mortos. Outros até mortos podem reviver. É a imprevisão na política. Quem viver, verá. Quem partir, deixará a história. Não tem nada mais imprevisível que a política.
Rui Raiol é escritor
Publicado no jornal O Liberal em 25/10/2022
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