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Artigo: “A iludida marcha da humanidade”

     Desde que o mundo é mundo, gerações se sucedem como se fossem as únicas ocupantes do planeta. Lidamos com os mortos como passado e com os futuros habitantes do mundo como um tipo de ficção.      Fico impressionado com tanto labor humano tratado como original. A vida é um chamamento ao trabalho. As relações interpessoais são complexas, sejam físicas ou não. Um turbilhão de ordenanças e regras estavam nos esperando no berço. Muito perrengue. Muita cobrança, compromissos que nossos pais cumpriram em nosso lugar enquanto no berço e uma montanha de responsabilidades nos esperando no chão.     Quando estou no trânsito e vejo tanta gente agoniada, eu me pergunto para quê tanta pressa. No embarque aéreo, a pressa se repete para entrar e para sair. Tem gente que briga porque é “diamante”, mas não embarcou primeiro. Velhinhos questionam prioridades. Sentado, aguardo calmamente que todos compartilhem comigo do mesmo destino. Na última vez que viajei, tivemos de esperar duas horas na pista de decolagem por causa de um boeing atravessado na via expressa. Pressa pra quê?     Sem uma compreensão sobre algum propósito de nossa existência neste mundo, o homem não é nada diferente das demais espécies, talvez pior. Quando observo alguns animais, vejo-os mais tranquilos que muitos homens. Há uma pressa inata no ser humano. se observarmos bem, vivemos sempre em função do momento seguinte, é uma corrida louca para o fim.     Mas, certamente, é essa ideia de uma experiência única da vida o que mais me assusta. Segundo cálculos, 107 bilhões de almas já viveram neste mundo. Todavia, a fração de 7 bilhões continua se achando única. De certa forma, o homem vive um tempo muito finito, porém, adornado por uma aura de eternidade.     Afastando qualquer pessimismo, é importante considerar a nossa finitude, pois todos nós corremos, corrermos,  mas vamos parar. E esta experiência, que nos parece tão única e original, nada mais que uma ilusão.      Sendo assim, vivamos tranquilos. Vivamos sem desejar conquistar o mundo. Não achemos que precisemos lutar tanto. Vivamos. 

Rui Raiol é escritor

Publicado no jornal O Liberal em 11/10/2022
E-mail: ruiraiol@gmail.com