ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Artigo: “O tempero da vida”

Qual a dose certa da personalidade? Considerando o nosso habitat, porventura nossa capacidade cognitiva é suficiente para anular os riscos comuns aos demais seres vivos? Existiria uma dose necessária de stress, pacificidade e ousadia? Coragem e medo são necessários?     Instruindo os primeiros evangelistas, Jesus recomendou que eles orassem e vigiassem, recomendou que tivessem a simplicidade das pombas e a sagacidade das serpentes. Simplicidade e prudência. Candura para aceitar o que não se pode mudar e insistência para alcançar resultados desejados. Um observador crítico chamaria o Messias de “subversivo”, mas Ele ensinava uma leitura desapaixonada da vida e um olhar de autodefesa primeiramente.     Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: temperança, pois isto é o que separa o remédio do veneno. Uma dose de bem é necessário. Ter olhos bons, mente sã e alma pura são fundamentais a quem deseja se conservar incontaminado no meio da corrupção, mas isto não basta: é preciso termos consciência da existência do mal. A traição surgiu no Paraíso. Foi ali, no Reino da luz, que as trevas se evidenciaram, aliás, nosso referencial de virtudes parte desse tenebroso contraste. Como escreveu Paulo, a consciência do erro nasce da publicação da lei, dos proclamas de um mundo ideal. É assim até hoje, ninguém pode alegar em defesa desconhecimento de uma lei publicada.    Não adianta: você não conseguirá sobreviver sem certa dose de malícia. O mundo não respeita simples pregadores, é preciso coragem para marchar e defender. Eis a lição de Martin Luther King, Mahatma Gandhi e Oswaldo Cruz. Esqueça: por mais puro que você seja, você não é um anjo, é um homem. Você pode falar todas as línguas celestiais, mas ainda precisará comer feijão com arroz.    Todo exagero é prejudicial. Ao longo dos anos, tenho visto cristãos enlouqueceram porque exageraram não dose da oração e do jejum. Tenho me deparado com evangelistas nitidamente acelerados, à beira de um colapso nervoso. Cuidado! Lidar com o invisível é coisa séria.      Um homem morreu tanto beber água. Literalmente, ele lavou sais minerais vitais, então seu corpo entrou em falência. Há tempo para todas as coisas, disse o sábio. Dormir é tão necessário quanto despertar. Equilíbrio.     Excesso de zelo pode prejudicar. Os tribunais de contas repreendem o puritanismo legal. A coisa pública deve ser administrada com extremo zelo, mas não é patrimônio de nenhum funcionário zeloso. Esteja pronto para sorrir, mas saiba fechar a cara, ambos são necessários para a nossa sobrevivência.

Rui Raiol é escritor

Publicado no jornal O Liberal em 7/6/2022

 E-mail: ruiraiol@gmail.com