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Artigo: “Igrejas, apagou a luz?”

Jamais esqueci a primeira definição de luz que ouvi. Eu tinha quinze anos de idade e escutava o pastor  Waldemar Farias, em Vigia, referir em seu sermão que, participando certa vez de uma reunião de pastores  da Assembleia de Deus, um ministro teria perguntado:“Afinal, o que é a luz?”. Alguém se levantou e disse que a luz é a verdade, explicando que, quando entramos em uma casa sem luz e desconhecida no meio  da noite, nada sabemos daquele ambiente, mas, ao toque de um simples interruptor, lâmpadas acendem e nos revelam espaço por espaço do recinto. Do aparentemente nada, disse, podem surgir diante dos nossos olhos cores agradáveis na parede, uma decoração fascinante, pessoas e outras espécies animais presentes, tudo se revela.

                Entre as mais precisas e profundas definições de Deus, temos que “Deus é luz”. Foi com esta definição que João escreveu seu evangelho aos gregos, afirmando no prefácio que, no “princípio”, Jesus era o verbo (conceito que encantava os gregos) e o verbo  era Deus. Sua referência aponta para o Gênesis, livro da origem de tudo, onde, logo no comecinho do texto, Moisés declara que a primeira ordem divina para organizar o caos foi: “Haja luz!”. 

             Depois dessa remissão, João continua dizendo no seu evangelho que a Luz era a vida e a vida era a luz  dos homens. A seguir fala de João Batista, tocha de Deus que viera para “preparar o caminho” de Cristo, que o evangelista diz ser a verdadeira luz que ilumina todo ser humano.  

         Curiosamente, a Luz que iluminou tudo foi rejeitada na Terra, rejeitada porque, mesmo entre os que se proclamem admiradores da luz, há quem não goste da verdade e fuja da claridade para que suas obras permaneçam sob sigilo. Porém, falou o Messias que a verdade jamais permanecerá escondida e que tudo o que se cochicha dentro de uma casa para ocultar a verdade sobre nós, sobre terceiros ou até ironicamente sobre Deus será apregoado nos telhados. Mais tarde, Paulo escreverá  aos efésios  que “a luz tudo manifesta” (Ef 5.13b).                Isto posto, como dizem os causídicos, a pergunta que se faz no atual contexto das igrejas evangélicas brasileiras, mormente àquelas pentecostais, que  têm o fogo como um dos símbolos mais sagrados de seus credos, é: apagou a luz? A pertinência desta pergunta está fundamentada na omissão de pastores perante temas nacionais frontalmente contrários à luz, bem como da ação  tenebrosa no sentido de ensinar, firmar alianças dúbias, segregar pessoas, desrespeitar  instituições e liberdades individuais constitucionais e praticar, reservada ou publicamente  atos cuja natureza não pode ser submetida à luz dos homens capacitados e autorizados a julgar e, numa imaginação pífia, esconder-se até de Deus.  
            Igreja, tua luz ainda brilha ou te perdes em teus meandros de trevas? Assembleia de Deus brasileira, a chama pentecostal de Deus nas vidas de Daniel Berg, Gunnar Vingren e Celina Albuquerque ainda permanece sobre ti? 

Rui Raiol é escritor 

Publicado no jornal O Liberal em 26/04/2022

E-mail: ruiraiol@gmail.com