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Artigo: “Animais de sangue quente”

A ciência classifica os animais em dois grupos quanto à capacidade de manter constante a temperatura corporal. Diferente do homem, que contém mecanismos próprios de autorregulagem, outros, como os répteis, precisam ainda de uma boa dose de luz solar para auxiliar esse processo. Você deve lembrar da cena clássica de um crocodilo se aquecendo às margens de um lago.

            Segundo a ciência, a temperatura corporal média do homem fica em torno de 36ºC. Não suportamos grandes oscilações para cima ou para baixo.  Para manter o nosso sangue com temperatura estável, o corpo trabalha bastante, contando para isto com a ajuda do meio externo. Ao falar sobre este aspecto, não estou afirmando que a febre ou a hipotermia alteram a temperatura do sangue, pois não tenho este conhecimento. Falando, sim, da temperatura corporal, todos sabemos que a hipotermia, tanto quanto uma febre muito elevada, pode ser algo grave.

            Mas, ainda que todos desconhecêssemos esta qualidade da temperatura do sangue humano, todos sabemos que o sangue “ferve” às vezes. Claro, aqui você nota que o meu viés saiu do padrão verificável por termômetros ou outros métodos, saiu para alcançar um aspecto psicológico. O homem é, por natureza, um animal cujo sangue pode “ferver” mesmo em determinados momentos. Aí, você vai entender que a coisa é mais complexa porque não é o sangue que propriamente ferve, claro, mas todo um conjunto de hormônios, órgãos e células, que trabalham para gerar não necessariamente uma temperatura, mas, agora, um temperamento, embora ocasional.

            O criticado temperamento colérico é um dos principais do gênero humano. Ele aparece em momentos de manifesto um tipo de exagero, desproporção. Esse temperamento tem grande importância na História.  Quando lemos sobre pessoas tão tenazes, persistentes, decididas por seus objetivos, encontramos estas qualidades em muitos que deixaram boas marcas sobre a Terra. Podemos lembrar Leonardo da Vinci, o profeta Elias e tantos outros. Porém, infelizmente, o temperamento colérico também existia em Mussolini, Hitler, Pinochet e certamente é o combustível da guerra que está destruindo a Ucrânia. Somos feitos de contrastes, tudo é uma questão da dose. 

            Esquecendo o Antigo Testamento colérico cujas páginas, algumas, são escritas com sangue de homens, mulheres, crianças e até de animais, a coisa pegou, esquentou, ardeu mesmo até no ministério de Jesus Cristo. Que Pedro era colérico, que me corrija Malco, cuja orelha foi decepada pelo apóstolo.

Mas, Jesus, o mesmo que dormia na popa de um barco durante um temporal no Lago de Genesaré, que arrebatou multidões assentadas na relva ao ouvi-lo dizer: “olhai para os lírios do campo”, é o mesmo jovem que saiu de casa para viver um ministério itinerante, amaldiçoou uma figueira infrutífera fora de época, que não aceitou a lição de moral do irmão quanto ao dever de ir à Festa dos Tabernáculos e fez um verdadeiro quebra-pau no suntuoso Templo de Jerusalém.

Rui Raiol é escritor

Publicado no jornal O Liberal em 20/04/2022

E-mail: ruiraiol@gmail.com