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Artigo: “Guerra e “res publica” no governo Bolsonaro”

A ida de Bolsonaro à Rússia em momento pré-guerra foi um dos principais desastres de seu governo. Ao afirmar que era solidário ao desconhecido, sofreu ele próprio as consequências do desmonte que seu mandato tem causado às instituições brasileiras.

             Em nível internacional, o Brasil revelou-se um fiasco diplomático. Por que Jair Bolsonaro foi à Rússia fazer referida afirmação? Resposta: porque foi mal assessorado, certamente, não fez isto senão convencido por seus embaixadores que não haveria guerra. Engano fatal e infantil. Há muito, o serviço de inteligência dos Estados Unidos e de certos países da União Europeia sabiam que a invasão era certa. Só o Brasil de Bolsonaro não sabia.

             Foi assim que Bolsonaro sofreu um grande revés de seu próprio labor contra a República. Do latim, este termo “res publica” significa literalmente “coisa pública”, patrimônio material e imaterial conquistado por um povo dentro de um regime democrático, como o nosso. “Res” é coisa, portanto: coisa pública. Mas o que é esta “coisa pública”?

             Coisa pública são as ruas, os rios, o solo, subsolo, o espaço aéreo brasileiro. Coisa pública são as florestas, o Parlamento, o Judiciário. Coisa pública são as autarquias, o serviço de transporte coletivo, as praças, toda a infraestrutura da nação brasileira.

             É por isto que a impessoalidade é um dos princípios constitucionais por excelência. Ninguém que assuma um cargo público, um mandato, um ofício deve fazer isto movido por pensamentos desconexos desse grande organismo republicano. Cada instituição tem a sua importância. Existe uma interligação.

             Ao desmontar o Itamaraty, o Brasil, do imortal “Águia de Haia”, tornou-se uma nação pequena, sem inteligência, sem percepção clara do fato mais antigo em matéria de direito internacional, qual seja, a guerra.  Aníbal, “O Grande” revira-se no seu túmulo pois, sem a estrutura brasileira, foi capaz de atormentar a poderosa Roma nas conhecidas guerras púnicas.

             Brasileiros precisam compreender que atentar contra o Senado, Câmara, STF, OAB, funcionários públicos, universidades etc. é atentar também contra o Planalto, é ferir de morte essa coexistência. O resto é discurso autoritário. O resto é a famigerada síndrome de Lúcifer, que tenta convencer que tudo é relativo, que não precisa de nada, que sabe tudo, que pode dispensar tudo e todos, sendo o único detentor do conhecimento e do meio de fazer o que deve ser feito.

             Qualquer pessoa de mediana inteligência há de convir que essa postura não está correta. Quando você concorda com o perfil individualista de um governo, você está confessando que você seria incapaz também, seriam incapazes seus filhos, seus netos, todos que não rezassem pela cartilha política de uma única pessoa. Valha-me, Deus, isto não é mesmo coisa de gente inteligente!

Rui Raiol é escritor.

Publicado no jornal O Liberal em 1/3/2022

(e-mail: ruiraiol@gmail.com)