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Artigo: “Política e a verdadeira guerra da Igreja”

 Estou convicto de que o ativismo político é um dos principais demolidores da legítima construção espiritual da Igreja. Sem muito esforço, qualquer exegeta mediano do Novo Testamento compreenderá de plano que a natureza da Igreja transcende diretamente elementos políticos do mundo.

             Todo cristão que conhece a doutrina de Jesus, encontra no comportamento do Mestre uma leitura claríssima dos objetivos que Jesus tinha em mente para viver e ensinar os continuadores de sua mensagem. Cristo viveu em período político de exceção. Não era a direita, nem a esquerda nem o centro que estava no poder em Israel: era Roma. Roma garantia “a ordem”, Roma tributava os judeus. A pseudoliberdade eclesiástica não passava de um acordo de cavalheiros entre o imperador e o Sinédrio. Troca de favores. Nepotismo. Mordaça nas sinagogas. O profeta que se atreveu a exercer com liberdade seu ministério, perdeu a cabeça.

             O Brasil vive esta desgraça. No presente momento, a mente de importantes lideranças evangélicas está desconectada do Céu. A luta de muitos é reeleger o atual presidente. “Faça-se a tua vontade” não consta das orações de muitos crentes. Deificados pela política partidária, evangélicos sem visão de Igreja ditam a Deus o que este deve fazer. Já sabem o futuro. Já conhecem política. “Reeleição”, eis a única saída, clamam crentes desesperadamente como os profetas de Baal. Deus precisa ouvi-los. Deus “deve” ouvi-los. Esses cristãos não precisam recorrer à humildade de Jesus no Horto enquanto orava pela maior de todas as decisões do Evangelho.

             O substrato de toda essa visão distorcida do legítimo papel da Igreja está no terror, medo, uma pregação rasa fundamentalista e muitos fakenews que apontam até o fechamento de igrejas, caso outra bandeira vença as eleições deste ano. É vergonhoso que instrumentos da luz trabalhem com meias verdades e mentiras. É vergonhoso que igrejas sejam casas de alienação.

             Uma exegese cristalina aponta que o Evangelho trabalha contra esse estado de coisas. Jesus é o maior exemplo, ele pregou sua mensagem e morreu por ela, sem se importar que o político Pilatos reconheceu a inocência do Mestre. Entre sobreviver por um “favor” do governador da Judeia, Jesus preferiu deixar bem claro diante de todos que o Seu reino não era deste mundo.

             Escrevendo aos cristãos de Éfeso, o apóstolo Paulo, preso em Roma, afirmou com todas as letras que a verdadeira luta da Igreja “não é contra a carne e o sangue”, não tem esse matiz político, é espiritual, resolve-se com oração resiliente e não com ativismo político.

             Eu fico impressionado pela sedução política de muitos líderes evangélicos. A Igreja quer o poder temporal. Pastores querem ser amigos do presidente. Mas a pergunta que não quer calar é: por quê? Para quê? Eu compreendo que os fins não justificam os meios. Desrespeitar a liberdade do eleitor evangélico, demonizar todos os demais candidatos e espalhar mentiras jamais construirão uma Igreja espiritualmente forte, jamais convencerá o mundo que alguns do seu meio vivem na luz.

Rui Raiol é escritor.

Publicado no jornal O Liberal em 15/2/2022

(e-mail: ruiraiol@gmail.com)