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Artigo: “Vida e paixão”

Que relação existe entre estes dois elementos? Primeiro, o que é paixão? Como esse valor se agrega à vida, no sentido filosófico do termo? Etimologicamente, paixão vem do grego “pathos”, significando tristeza ou sofrimento, aqui uma reação a peças teatrais helênicas, textos ou fala mesmo. O latim foi mais claro: “passio, onis”: passividade, tristeza ou sofrimento. Daqui nasceu a “paixão” de Cristo.

Olhando essa etimologia, de plano percebemos que seu significado é muito raso e frio diante do fogo que evoca o verbete, pois a natureza da paixão é arrebatadora, extrema. Assim, desiludido, abandono o berço da palavra para pensar com você mais apaixonadamente este termo.

No meu trabalho de pareceres jurídicos na Justiça Federal no Pará, alguns juízes comentavam o modo apaixonado, segundo eles, como eu escrevia aquelas peças. Afinal, Por que esmerar um trabalho em grande parte objetivo? A resposta que eu tenho é que, apontados os elementos fáticos e objetivos de um trabalho assim, são os elementos subjetivos os de maior profundidade de análise. E era aqui onde o prazer de investigar se evidenciava. Esse era o endereço da minha alma naquelas páginas, um terreno fértil onde a paixão pelo que faço brotava e florescia a olhos vistos. É deste viver com paixão que eu falo neste artigo.

A vida requer paixão. Breve a existência, perderemos bastante se não utilizarmos a força da paixão no dia a dia. Eu penso que a paixão é uma concentração massiva de amor. Seria por esse poder que uma pessoa demais apaixonada pode até cometer exageros no trabalho, no lazer, no relacionamento afetivo em geral.

Eu tive a oportunidade de conviver com um artista. Ele abria vários quadros de uma vez, cada um com uma temática. Durante o dia, entre uma e outra xícara de café, lá estava o homem a sós com suas telas. Durante a noite, a cada intervalo de sono, ele voltava ao ateliê para retocar seu trabalho. Dizia que era em alguns desses momentos que conseguia a inspiração necessária das formas e cores de suas telas.

Para alguns, a paixão é apenas o motor de arranque, o ímpeto inicial. Vencida esta fase, vive-se uma estabilização. Para outros, porém, a paixão é uma questão de alma, algo que não se afasta, próprio da natureza de alguns. Uma pessoa apaixonada pela vida é alguém que pode se apaixonar mais facilmente pelos elementos do seu caminho. Eis a paixão essencial. Não dá para viver sem uma grande dose de deslumbramento pelo mundo. Bilhões de estrelas nos espreitam. Flutuamos nesta nave oxigenada cuja viagem acelerada pelo Cosmos carrega junto todo o suprimento de que precisamos. Os reinos animal, vegetal e mineral seguem a bordo. O Sol, com milhões de graus centígrados no seu âmago, chega aqui na medida certa. A vida requer paixão. Vamos lá, vale a pena a aventura de viver!.

Rui Raiol é escritor

Publicado no jornal O Liberal em 09/11/2021

Site: www.ruiraiol.com.br