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SILAS MALAFAIA

Semana passada, o pastor Silas Malafaia foi alvo de um mandado de condução coercitiva à Polícia Federal. O objetivo da ordem era esclarecer um cheque de cem mil reais depositado em sua conta bancária, cheque esse que teria ligação criminosa, segundo a polícia. Repudiando principalmente a forma coercitiva da ordem policial, Silas Malafaia fez um escarcéu perante as redes de televisão e tentou explicar o fato, o que também fez também por todos os meios disponíveis.

De acordo com Silas Malafaia, o cheque em debate foi uma oferta que uma pessoa lhe deu para uso pessoal – não para a igreja onde é pastor-. O donatário era-lhe uma pessoa desconhecida, apresentada ali no ato da doação por um amigo particular de Malafaia. Hoje, quero conversar com você sobre este fato, tentando encontrar resposta para duas perguntas. Primeira: por que uma pessoa, sem vínculo algum com um pastor ou uma igreja, doaria cem mil reais a um religioso? Segunda: qual deve ser a atitude de um religioso que recebe uma oferta desse vulto? Deve investigar a origem da doação ou simplesmente depositar na conta bancária? Vamos pela ordem.

A operação Lava Jato está provando que não existe doação filantrópica para partido político. Prova a operação que esse tipo de doação, exceções à parte, funcionam como moeda de troca. Então, qual deve ser a atitude de um religioso que recebe oferta de tamanho vulto? Pelo comezinho pudor moral, ético e legal, esse religioso deve investigar a razão do donativo. Se uma pessoa fora do nosso círculo de conhecimento aparece com uma pequena fortuna para nos doar, acenderá uma luz vermelha, sim, pois podemos estar perante coisas muito graves.

Neste sentido, discordo completamente do pastor Silas Malafaia, que alegou não ter a obrigação de averiguar as doações que recebe. Tem sim. Trata-se do exercício de vigilância que a própria Bíblia nos ensina. Aliás, genericamente falando, “oferta” é um dos termos que os cristãos mais utilizam para se referir às tentações, aos desafios que diariamente enfrentamos para seguir no discipulado de Jesus Cristo. Somos doutrinados pela Escritura a rejeitar as ofertas do mundo. O dinheiro está no centro dessa bandeja de ouro. Somos admoestados a examinar tudo, mas reter apenas o que não fere os princípios bíblicos, morais e legais.

Naturalmente, o nosso tempo parece ser diferente dos valores bíblicos. Pelas mídias sociais, falando sobre este caso, alguns evangélicos dizem que não cabia examinar nada sobre a oferta recebida. Cabe sim. Toda pessoa sensata, cujo coração não tenha sido seduzido pelo dinheiro, deve estar pronta a rejeitar qualquer oferta que não lhe pareça confiável. Durante sua provação, Jesus resistiu às ofertas do Tentador. Disse “não” para milagres de transformar pedras em pães, muito embora estivesse morrendo de fome.

Não me referindo mais ao pastor Silas Malafaia, mas agora falando em linhas gerais, acredito que algumas instituições religiosas são braços invisíveis da corrupção endêmica que grassa o Brasil. Igrejas podem funcionar muito bem para fins espúrios, desde que seus líderes relaxem a vigilância. Eu penso que todas as instituições religiosas, sem fins econômicos, devem passar pelo controle da Receita Federal. Eis uma medida que traria mais luz ao seio de instituições hermeticamente fechadas a qualquer tipo de controle externo.

É necessário, como parte do processo de cura do Brasil, que as igrejas, Católica e evangélicas, abram seus caixas à luz. Uma significativa fatia da renda nacional passa por essas igrejas. Isto não lhe retiraria a imunidade tributária. Não. Será apenas um ato informativo mensal, onde cada igreja comunique à Receita Federal o total de sua arrecadação e, a partir de certo valor, esteja obrigada a informar também o nome e o CPF dos donatários. Isto facilitaria muito, ajudaria até Deus, afastando maus administradores dessas instituições, impedindo o enriquecimento de religiosos e até o fantasma da lavagem de dinheiro.

Sobre a liberdade religiosa, referida medida em nada feriria esse direito. Pelo contrário. Jesus ensinou que “todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.”. Nada a perder.
Eu creio que ainda chegaremos a esse nível de luz. É inadmissível que tudo prossiga como está. A religião institucionalizada e corrompida é um dos piores tipos de opressão. Destrói o corpo e a alma.

Rui Raiol é escritor (Site: www.ruiraiol.com.br)
Publicado no jornal O Liberal em 20/12/2016