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PAPA FALA DE PERDÃO A HOMOSSEXUAIS

Lendo o Novo Testamento, não encontramos nenhuma referência sobre a igreja pedir perdão. A recomendação é de cima para baixo. Assim, vemos os apóstolos Pedro e Paulo admoestarem os cristãos a sempre exercerem o amor e o perdão, mas nenhuma indicação coletiva neste aspecto. Mesmo nas cartas do Apocalipse que denunciam o afastamento da fé de algumas comunidades da Ásia Menor, a missiva foi endereçada ao “anjo da igreja”, vale dizer, ao líder.

Porém, no último domingo, o Papa Francisco disse durante um voo que a Igreja Católica e os cristãos, individualmente, devem pedir desculpas aos homossexuais pela forma como eles foram tratados no passado. Uma igreja, seja católica ou evangélica, deve pedir perdão? Sim, e isto tem vários significados e fundamentos.

O vazio daquela orientação às comunidades cristãs do primeiro século explica-se pelo caráter de sua própria formação. Sendo a Igreja – abrangendo todas as suas acepções – a agregação de seguidores de Cristo, a falha era mais esperada do indivíduo que da comunidade que o abraçara de uma vida longe do Deus amoroso revelado pelo Messias.
Antes de seguir, preciso dizer uma palavra: a igreja, como referida nos evangelhos nada tem a ver com a Igreja Católica Apostólica Romana nem qualquer denominação evangélica, enquanto instituição. Até cerca do ano 300 AD, os seguidores de Jesus não tinham templo nem estavam oficialmente organizados. Não havia um governo central. Vamos à questão do perdão!

Sim, toda igreja pode errar. Mesmo aquela comunidade primitiva, tão empolgada com a fascinante e recente história de Jesus, podia errar. Pedro errou. Apegado ao judaísmo, ele achava inicialmente que a mensagem de Cristo não devia ser compartilhada com os gentios, as “gentes”, conforme os romanos classificavam depreciativamente os estrangeiros. Daí, deduzimos que os erros de uma igreja provêm de sua liderança, daqueles que têm o poder de falar em nome do grupo. Neste sentido, até que o apóstolo Pedro mudasse seu ponto de vista, é bem provável que sua curta visão tenha sido compartilhada, fazendo a igreja pecar.

Ovelhas são animais conduzidos. Elas aprendem com seus pastores de campo aonde podem ir. São eles que determinam o tipo de pasto, o tempo ao ar livre, a hora de se recolher etc. Analogicamente aplicado ao rebanho de cristãos de determinada comunidade, salvo alguma ovelha desgarrada, temos que o erro e o acerto estão nas mãos dos líderes da igreja. Sendo assim, quem errou mesmo quanto a essa questão do tratamento homossexual foram os papas, os bispos, os padres. Foram todos aqueles que, investidos de autoridade eclesiástica, deformaram o caráter cristão de seus rebanhos ou, pelo menos, não formaram esse caráter. Depois, erraram as ovelhas. O perdão agora é requerido de todos.

Mas, sobre quê os católicos devem pedir perdão aos homossexuais? A Igreja Católica aceita os gays agora como algo normal? Não, não aceita. A maior prova disso é que, oficialmente, eles estão fora do clero. Devem pedir perdão pelas ofensas físicas e morais perpetradas contra essas pessoas. Corretíssimo!

Particularmente, eu discordo da forma como alguns evangélicos estão tratando essa questão da homoafetividade. Lendo as Escrituras, não encontramos Jesus ofendendo ninguém. E olha que o mundo helenista estava povoado de homossexuais, o próprio Alexandre Magno era um deles. Mas a mensagem de Jesus é o amor. O amor é a sua ferramenta. O Mestre não é uma pessoa que trata somente do exterior, ele investiga as causas e aponta consequências. Ele confronta a pessoa com a verdade, e deixa que ela mesma faça suas escolhas.

Hoje, temos gente ganhando fama por declarar “guerra” aos homossexuais na Câmara dos Deputados. Ora, isto nunca foi uma atitude cristã. Cristãos menos esclarecidos aplaudem essa conduta. Apoiam todo radicalismo religioso. Todavia, isto não copia o que Jesus viveu. Jesus não criticou nenhum pecador. Ele pregou uma palavra de amor e misericórdia. Fez assim com Judas até o último segundo. E, com essa mensagem serena, ganhou um ladrão na cruz.
Somente uma classe foi exposta por Jesus, justamente daqueles que hoje equivalem a papas, bispos e pastores. Foi para estes a crítica, ácida crítica. Jesus os comparou a guias cegos. Disse que, não obstante o esforço que antigos mestres judeus faziam para ganhar um novo adepto na fé, depois de ganhá-lo, faziam dele um filho do inferno duas vezes mais. Exatamente assim. O erro pode ser individual e coletivo, mas, no caso de uma coletividade como a Igreja Católica, há de se perquirir que liderança construiu isso por ação ou omissão.

<em> Rui Raiol é escritor (www.ruiraiol.com.br)</em>