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O ano que não terminou

Parafraseando o célebre Zuenir Ventura, 2019, certamente, já é um dos anos inesquecíveis da nossa história. O que vivemos neste ano foge de qualquer previsão. Astros, espíritos nem políticos poderiam imaginar as mudanças que descem Planalto abaixo desde janeiro.Sem fazer qualquer juízo de valor sobre o governo Bolsonaro, nem aprovar nem reprovar, o que me chama à atenção é o poder concentrado nas mãos de uma única pessoa. Fico impressionado como a democracia é tão permissiva, quanto é maleável e amolda-se às mais diferentes personalidades.2019 é o ano que não terminará dia 31. Na verdade, temos a impressão de que está apenas começando. Instituições, pessoas físicas e jurídicas estão sendo profundamente tocadas por este ano. Construções jurídicas estão desabando. Novos edifícios legais estão sendo erguidos em uma velocidade capaz de deixar abismado qualquer teórico do clássico senado romano. Leis viravam fumaça, levadas pelo vendaval que assopra do lugar onde Juscelino sonhou com um novo Brasil.O ano não termina nem para inimigos nem para amigos do Planalto. Sérgio Moro jamais previu que seu pacote anticrime trouxesse a reboque um juiz de garantias. Magistrados e promotores querem saber como isso será implantado, querem saber, por exemplo, se haverá também um “promotor de garantias”, querem saber por que esse juiz da instrução policial ficará responsável também pelo recebimento da denúncia, sendo que o processo penal estará nas mãos de outro magistrado.2019 não termina para quem achava que Bolsonaro iria acabar com o bolsa-família. O pesadelo virou sonho com o pagamento de uma bolsa-natal. Isto faz o ano não acabar para apoiadores nem para a oposição, que começará 2020 imaginando como isto se tornou possível a um governo que viu o preço da carne disparar.O ano não acabou também para o ex-presidente Lula. Está livre, mas não tem liberdade de sair às ruas com segurança. Está livre, mas não absolvido, nem do crime que o encerrou atrás das grades nem de outros tantos. Mas, políticos presos não são presos comuns. A arte de fazer política, ou a ciência, não está sujeita às grades nem a qualquer outro tipo de restrição de liberdade. O ano não acaba para Lula, pois sua história continua viva e ecoando, maldito por uns, bendito por outros. 
Publicado no jornal O Liberal em 14/01/20
Rui Raiol é escritor (Site: www.ruiraiol.com.br)